12.27.2006

Mudança de Hábito

Esquece o que eu te disse. Não entendo esta sua mania de querer sempre o melhor de mim. As vezes eu gostaria apenas de tomar uma cerveja olhar o seu rosto e não dizer palavra alguma. Nada de – o que você esta pensando? Ou - você nunca compartilha suas coisas comigo. Mas existe sempre uma ânsia sua que devora o meu sossego. Uma unha cravada em cada poro do meu corpo que me faz ficar alerta por dias e dias. Fico cansado de tentar me virar em muitos para satisfazer a sua necessidade de me ter do avesso. Existem tantas coisas que ainda permanecem ocultas para mim. Os seres abissais do qual tinha medo ainda repousam no fundo do silencio, lá onda não há luz. É difícil você perceber, mas nunca tive tempo para mergulhar alguns metros a mais, tendo que lhe revelar a cada instante o que tinha pela frente, o produto de minhas investigações. O meu silêncio nunca foi um dedo em riste. Toda a vez que te encontrava , sorriso aberto, e olhos que engoliam o mundo me sentia mais vivo. Só que nunca pude atender a sua curiosidade mórbida. Sou daqueles que apreciam a paisagem. Deixo as coisas passarem por mim como quando coloco a cabeça para fora da janela e engulo o vento. Pensei em muitas coisas em comum. Fiz planos. Mas não queria me alimentar do outro. Não queria arrancar os fiapos de carne presos entre os seus dentes brancos. A gente precisa digerir para depois transformar em energia. Mas você queria sempre mais, e eu estava só começando. A sua insatisfação, sua vida repleta de urgência, me fez esquecer que tenho apenas vinte e nove anos. Sei que jamais entendeu esta parcela da vida que foge ao nosso controle. Queria tanto ter o prazer de encontrá-la ao acaso no fim de um dia tedioso, mas sei que você nunca abandonou o calor de minhas costas , minha nuca. Por isso digo que simplesmente aconteceu. Um dia eu já não estava mais lá no seu porta-retratos. Muito antes mesmo de você atirá-lo do décimo andar eu já tinha partido por aquela janela. Tentando refazer minha vida caco por caco. Sem querer completar um vaso só por medo de não estar inteiro ainda.

Você nunca entendeu este espaço da vida que foge a nossa compreensão. Nunca lhe prometi meus sonhos. Minha vida. Prédios que se ergue muito próximos fazem sombra um no outro.

Sem rancor.